Os zoológicos têm uma longa história que remonta às antigas coleções feitas por reis e nobres, onde animais exóticos eram exibidos como símbolos de poder e status. Hoje, os zoológicos ainda existem pautados fortemente na função de entretenimento para os seres humanos, porém, com uma complexa gama de outras funções envolvendo elementos de conservação da biodiversidade e educação ambiental.
É muito comum ouvirmos que os zoológicos são essenciais para a promoção da conservação ex situ (fora do lugar de origem, ou seja, fora da natureza) de animais silvestres sob algum risco de extinção. Entretanto, essa função de “conservação” associada aos zoológicos deve sempre ser avaliada criticamente e sob uma perspectiva muito mais ampla.
Ações efetivas para conservação de espécies envolvem muito mais do que a reprodução e manutenção dos animais em cativeiro, como é feito em alguns zoológicos. É preciso, simultaneamente, esgotar as possibilidades de reintrodução na natureza, além de investir na preservação e na recuperação do ambiente natural degradado para que esses animais não sejam condenados a viver para sempre em cativeiro.
Aprofundando mais essa reflexão, é fundamental questionar se manter animais em cativeiro é a única ou a melhor forma de conservação e se isso é suficiente para justificar a exposição desses animais que acabam servindo ao entretenimento humano. A reprodução em cativeiro não deveria estar necessariamente associada à exposição pública dos animais, seja para arrecadar financiamento para os projetos de conservação, seja para promover “educação ambiental”. Há variados exemplos de projetos bem-sucedidos de reprodução em cativeiro fora do contexto de entretenimento produzido nos zoológicos.
Em resumo, é indispensável refletir sobre a situação dos animais nos zoológicos, seja para entretenimento ou como parte de uma estratégia de conservação. Não há como desconsiderar o impacto que o cativeiro e a exposição pública pode ter em no bem-estar físico e psicológico dos animais e como essa condição de vida pode, inclusive, ser contraproducente para ações de educação ambiental que não contextualizam porque os animais estão vivendo nesta situação. Mesmo com os avanços em técnicas de enriquecimento ambiental, muitos questionamentos permanecem sobre a ética de manter animais selvagens em cativeiro.
Resta a cada um de nós sempre avaliar criticamente o papel dos zoológicos na conservação e no bem-estar animal. Devemos nos perguntar: o que realmente constitui as ações de conservação nos zoológicos? O que está sendo feito para além da reprodução em cativeiro? E, finalmente, como podemos contribuir de maneira significativa para a proteção da vida selvagem em seu ambiente natural?
Thayara Nadal, Médica Veterinária no projeto Vida Silvestre, Vida livre do Fórum Animal.