Zoo do CIGs, situado em Manaus, abriga mais de 1.000 animais amazônicos. Será que o Brasil precisa realmente disso? 

O Zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), localizado em Manaus, é um dos maiores do Brasil e abriga mais de mil animais de diversas espécies amazônicas. Recentemente, o zoológico ganhou destaque na mídia devido a uma parceria firmada entre o Exército Brasileiro e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que visa a melhoria das condições de infraestrutura do zoológico, a atualização das áreas de visitação e exibição dos animais, além de aprimorar as instalações para garantir o bem-estar dos animais e a experiência dos visitantes.

Mas por quê manter espécies exóticas em cativeiro? 

O Zoológico do CIGS justifica sua existência com diversos argumentos. Primeiro, pelo resgate de animais tráfico ilegal de fauna. Animais que não podem ser devolvidos ao seu habitat natural devido a ferimentos ou outras condições encontram no zoológico um lugar monitorado onde podem viver com cuidados adequados. Outro motivo é a “função educativa” do zoológico. Além disso, o zoológico realiza pesquisas científicas que contribuem para o entendimento das espécies amazônicas, com a justificativa de que o estudo em ambiente controlado permite com que a ciência aprenda mais sobre seus comportamentos, necessidades e ameaças, para ajudar na criação de estratégias de conservação mais eficazes.

Quais os desafios e os impactos do cativeiro? 

Apesar das justificativas, a manutenção de animais em cativeiro levanta questões éticas e práticas. Esta situação, mesmo em ambientes que tentam replicar o habitat natural, gera um sofrimento nos animais devido a falta de espaço e estímulos, o que pode levar a estresse, depressão e comportamentos anormais, como movimentos repetitivos ou automutilação. Essas condições levantam dúvidas sobre a real necessidade de manter animais em zoológicos. 

Enquanto o CIGS pode argumentar que oferece proteção a esses animais, é importante considerar se o cativeiro realmente promove o bem-estar dessas espécies ou se existem alternativas melhores, como projetos de conservação em áreas protegidas ou reservas naturais, onde os animais possam viver em liberdade. Além disso, há a questão da efetividade dos zoológicos na conservação. Em muitos casos, a reprodução de animais em cativeiro não contribui para o aumento das populações selvagens, já que muitos dos indivíduos nascidos em zoológicos não podem ser reintroduzidos na natureza. Isso levanta a questão se os recursos destinados a zoológicos poderiam ser melhor empregados em iniciativas de preservação direta nos habitats naturais dessas espécies.

O Brasil realmente precisa de Zoológicos como o do CIGS?

A resposta a essa pergunta é complexa. Zoológicos como o do CIGs podem desempenhar papéis importantes em resgate, educação e pesquisa, mas os desafios e impactos do cativeiro sobre o bem-estar animal e a conservação precisam ser cuidadosamente considerados. Em um mundo onde as tecnologias e abordagens de conservação avançaram, é válido questionar se os zoológicos ainda são a melhor forma de proteger a fauna brasileira.

Enquanto o Zoológico do CIGS continua a oferecer abrigo a centenas de animais amazônicos, é essencial que essa prática seja constantemente reavaliada à luz dos avanços científicos e éticos. A preservação da biodiversidade brasileira é uma prioridade, mas devemos sempre buscar as formas que priorizem a qualidade de vida e o bem-estar dos animais envolvidos. 

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Thayara Nadal, médica-veterinária no projeto Vida Silvestre, Vida Livre do Fórum Animal.