O que acontece com os filhotes que nascem nos zoológicos? 

O nascimento de filhotes em zoológicos é frequentemente comemorado como um grande sucesso, tanto pelos próprios zoológicos quanto pela mídia e pelo público. Essas ocasiões costumam atrair atenção e divulgar uma “imagem positiva” dessas instituições, como foi o caso recente do nascimento de um tamanduá-bandeira e de um mico-leão-de-cara-dourada no Zoológico de Belo Horizonte, e o caso do Zoológico de Brasília que comemorou o nascimento de dois filhotes de lobo-guará. Entretanto, uma análise crítica revela que a realidade por trás desses nascimentos é mais complexa e nem sempre tão positiva quanto parece.

Quando se trata do destino dos filhotes que nascem nos zoológicos, há três caminhos principais: permanência no zoológico de origem, transferência para zoológicos ou outros mantenedouros de fauna, ou reabilitação e reintrodução na natureza. No entanto, todos esses caminhos apresentam desafios e implicações éticas que muitas vezes são ignoradas.

  1. Permanência no Zoológico: Muitos filhotes permanecem no zoológico onde nasceram. À primeira vista, isso pode parecer uma solução satisfatória, mas a permanência prolongada pode levar à superlotação. Esse excesso de animais, por sua vez, resulta em espaços de confinamento inadequados e, potencialmente, em condições inadequadas de bem-estar. Além disso, a superlotação pode limitar a capacidade do zoológico de aceitar novos resgates ou de proporcionar um ambiente enriquecido para todos os seus habitantes.
  2. Transferência para Outros Zoológicos ou Mantenedouros de Fauna: Outra opção é a transferência dos filhotes para outros zoológicos e/ou mantenedouros de fauna. Embora essa prática seja justificada como uma maneira de diversificar o patrimônio genético e evitar a consanguinidade dos animais mantidos em cativeiro, também levanta questões éticas. A constante movimentação de animais entre zoológicos pode ser estressante e prejudicial ao bem-estar dos filhotes, que são submetidos a ambientes desconhecidos e novas rotinas.
  3. Reabilitação e Reintrodução na Natureza: Talvez o argumento mais atraente usado pelos zoológicos seja a promessa de reabilitação e reintrodução dos filhotes na natureza. No entanto, essa prática é extremamente rara e envolve uma série de desafios quase insuperáveis. A maioria dos filhotes nascidos em cativeiro não desenvolve as habilidades necessárias para sobreviver na natureza, e os ambientes naturais apropriados para a reintrodução são cada vez mais escassos. Mesmo quando a reintrodução é possível, as taxas de sucesso são geralmente baixas, o que levanta a questão: até que ponto a reprodução em cativeiro é realmente uma contribuição significativa para a conservação?

A reprodução em cativeiro é muitas vezes promovida como uma ferramenta essencial para a conservação de espécies ameaçadas. No entanto, a eficácia dessa estratégia tem limitações porque sem um plano claro e viável de reintrodução, pode ser vista mais como uma forma de manter animais confinados do que uma iniciativa de conservação que priorize a vida livre. Além disso, ao reproduzir animais em cativeiro, os zoológicos podem estar utilizando os recursos que poderiam ser mais eficazmente aplicados em programas de conservação in situ, ou seja, na natureza.

O caso dos tamanduás-bandeira e dos micos-leão-de-cara-dourada em Belo Horizonte ilustra essa problemática. Embora o nascimento desses filhotes tenha sido celebrado como uma vitória para a conservação, a realidade é que esses animais provavelmente passarão a vida inteira em cativeiro, sem jamais experimentar o ambiente natural para o qual teoricamente estão sendo “salvos”. O nascimento dos filhotes de lobo-guará, no Zoológico de Brasília, também foi visto como uma vitória, mas está atrelado a um estabelecimento envolvido em várias polêmicas relacionadas ao bem-estar e à qualidade de vida dos animais. 

A popularidade dos zoológicos continua alta, mas é essencial que o público reflita sobre o verdadeiro papel dessas instituições na conservação animal. A reprodução em cativeiro, sem uma estratégia clara de reintrodução, tem sérias limitações para a conservação das espécies em vida livre. Em vez disso, pode perpetuar um ciclo fechado de cativeiro, onde os animais nascem, vivem e morrem sem jamais experimentar a liberdade natural.

Por isso, ao visitar um zoológico, é importante questionar o destino dos filhotes que nascem ali e considerar se essas práticas realmente contribuem para a conservação das espécies em vida livre ou se estão apenas perpetuando um sistema de confinamento e exibição de animais. A verdadeira conservação exige mais do que apenas manter espécies em vitrines; requer esforços direcionados para proteger e restaurar os habitats naturais onde esses animais verdadeiramente pertencem.

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Thayara Nadal, médica-veterinária no projeto Vida Silvestre, Vida Livre do Fórum Animal.